Avaliação

Sabe, meu querido e inútil Facebook, durante oito anos respondi como professor titular de Voleibol e Handebol junto ao Departamento de Educação Física da UEMAT – UFMS, depois da divisão do Estado — e minha maior preocupação sempre foram as dúvidas, que me atormentavam, quando da reflexão que fazia sobre a justeza da forma e conteúdo das provas que, por conta da prática regulamentar comum, via-me obrigado a aplicar em meus alunos. Tentava ser o mais justo possível, proporcionando aos alunos cujas habilidades físicas e técnicas não lhes permitiam maiores possibilidades de êxito ao final dos semestres. Para tanto, a primeira prova e a prova final eu só as realizava de forma teórica e escrita, permitindo-lhes que, com o afinco nos estudos da teoria das disciplinas, para o que disponibilizava apostilas, pudessem contornar eventuais resultados frustrantes durante as provas práticas, quando tinham que executar os gestos técnicos daquelas modalidades desportivas nas suas mais variadas situações.

Quem é que sabe a razão pela qual isso botou a cabeça para fora em minhas lembranças? Desconheço a verdade, mas alguém já me disse que aqueles que foram atingidos pelo alemão, no que respeita à memória, mantém à tona de sua cachola tão apenas o que está lá guardado desde priscas eras. Espero que não seja o meu caso e não tenha nada com o que estou narrando aqui.

Mas, voltando ao assunto, passei a questionar-me se estaria agindo de maneira correta ao reprovar alguns raros alunos. Sei que lhes foram dadas todas as oportunidades, inclusive sempre ofereci a todos o acesso à minha biblioteca particular, recheada com livros que a Universidade não tinha e que eu comprava na Espanha, Argentina, França e Estados Unidos. Ademais, esforçava-me para que meus alunos soubessem ao menos o que eu sabia, diferentemente de colegas professores que diziam não ensinar tudo a seus alunos porque os teriam como concorrentes no mercado de trabalho mais tarde.

Sei que era rigoroso com horários e com o uso do uniforme, mas não estava ali para ser condescendente com eventual indisciplina. Sei que minha fórmula de avaliação não era perfeita, mas sabia que dava a meus alunos todas as oportunidades de levar a bom termo os semestres que passaríamos juntos. Sabia que não podia estudar por eles. Essa tarefa só lhes competia.

Sempre tratei a Educação Física como um ramo extremamente sério da Educação. Meus nortes, Wilson Nogueira e Auguste Listello, assim desenvolveram a semente que já estava firmemente plantada em minha consciência desde a adolescência. Nunca vi a Educação Física e seus educadores como meros jogadores de bola. Os desportos, na minha concepção, sempre foram meros instrumentos para conseguirmos alcançar a formação completa do ser humano, principalmente das crianças e adolescentes.

Lamento por aqueles que desistiram ou que tiveram que me fazer companhia indesejada por mais um ou dois semestres. Não me causava prazer reprovar ninguém, pelo contrário. A meritocracia sempre foi inquestionável para mim. Como é ainda hoje, seja lá em que circunstância ou perspectiva for. Infelizmente, quando percebi para quais caminhos a Educação Física no Brasil se dirigia, optei por afastar-me. E não me arrependi, tendo em conta que foi medida acertada e mesmo porque nunca fui de dar murros em ponta de faca. O que não tem remédio, remediado está. Um grande e carinhoso abraço a todos aqueles e aquelas que me honraram como meus alunos.

Anadia<< >>Pirâmide Invertida

About the author : B.Lansac