– “O sulistas dizem que o cearense tem a cabeça chata porque, desde que a criança nasce, o pai bate em sua cabeça sobre o frontal e diz: – “Quando crescer vai para o Sul.” Então, os cearenses dizem que o sulista tem o rosto afinado porque, desde que o filho nasce, passa as mãos desde as têmporas até o queixo e diz: – “Será que é meu? Será que é meu?”. Foi uma das primeiras coisas que ouvi de um gerente, nordestino, de uma agência que foi minha porta de entrada no Nordeste lá pelos idos de 1982.

Mais tarde, lá pelos idos de 1987, já na capital do Estado de Alagoas, ouvi de um dos naturais que: – “O Estado de São Paulo só serve para fabricar porcarias e mandar para cá.” Coçou-me a garganta para fazer algumas perguntas, a primeira delas: – “O que seria pior: fabricar porcarias e tornar-se a mais poderosa economia brasileira ou comprar as porcarias e ficar patinando na pobreza econômica da cultura da cana-de-açúcar.” Mas, diálogos do nível só me interessam se tratarem-se de piadas, o que não era o caso.

Vemos hoje a movimentação de uma minoria significativa na Catalunha, região rica da Espanha, que tem autonomias em diversas áreas, sair às ruas de Barcelona para agitar e quebrar em nome da separação daquele país ibérico. A maior queixa: trabalham para os espanhóis preguiçosos do sul, os andaluzes. Uma queixa nem parecida com aquela de uma infinidade de pessoas que nasceram e vivem na região Sul e Sudeste do Brasil, com relação a eles e os habitantes do Nordeste e Norte do Brasil.

Eu já consegui sair dessa vala cretina e infeliz, embora não possa deixar de reconhecer que algumas distorções dão margem para as reclamações de lado a lado. Assim, tenho hoje um filho paulista, outro sul-mato-grossense, dois netos baianos, dois netos alagoanos, um bisneto pernambucano e dois bisnetos baianos. Crio encrenca pelos dois lados. Até nisso levo vantagem, já que por um lado só não tem graça alguma. Ah… e constitui família muito melhor do que a do Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque.