a sala ampla e o cinzeiro

Lá eu passei boa parte de minha infância e integralmente a adolescência, de maneira fantástica e feliz. Nem quero parar para pensar se foram consequentes ou não todos aqueles treze anos. Mas que tem alguma coisa negativamente misteriosa em minha cidade natal, isso tem! No dito popular, creio que uma caveira de burro. Não pode haver outra explicação para o que ocorre – ou melhor, não ocorre – com a cidade, localizada no interior e noroeste do Estado de São Paulo. É claro que é uma cidade, como quase todas as outras do Estado, fora e bem acima dos parâmetros da imensa maioria das cidades do país. Ruas pavimentadas e arborizadas, água tratada, ampla rede de esgoto, geometria e edificações de primeira linha. Mas, não tem jeito! Sua população não cresce na mesma proporção das demais cidades paulistas. Para não ser injusto e querer comparar Araçatuba com, por exemplo, Sorocaba, exemplificarei com algumas cidades a partir do centro do Estado em direção à fronteira com o Mato Grosso do Sul, onde se insere Araçatuba, que, quando vivi por lá, recebia a alcunha de “A Capital do Asfalto”.
Eu saí de Araçatuba no ano de 1966. Éramos maiores que Presidente Prudente e Marília; talvez um pouquinho menor que São José do Rio Preto; menor que Bauru, é certo, que, aliás, já tinha Lojas Americanas onde, sempre que passava por lá para a baldeação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil — uma lástima, a vapor e de bitola estreita – para a Paulista, bitola larga, elétrica e com vagões “pullman”, sobrava-me tempo para deliciar-me com um “banana split”.
Hoje Araçatuba perde em população para todas aquelas cidades. Nossa vizinha Birigui, que maldosamente chamávamos de “fazendinha”, deu um salto de causar inveja. Já não se sabe, por consequência do explosivo crescimento daquela cidade, se foi Araçatuba que chegou à divisa ou se foi Birigui, com Guatambu, que se encostou em Araçatuba. Ao que tudo indica a segunda hipótese seria mais verdadeira.
Alguém já me disse que a denominação de “A Capital do Boi Gordo”, outra alcunha dedicada mais recentemente a Araçatuba, residiu no fato de que grandes fazendeiros ali residem. Mas suas fazendas não ficam no município. Assim, vivem na cidade, mas recolhem impostos em outros municípios. Enquanto residi em Araçatuba, o quadro já não era muito diferente. Havia apenas duas indústrias que poderiam ser consideradas grandes: o Frigorífico T.Maia, que hoje parece abrigar uma universidade, e a Nestlé, que atuava tão apenas na linha de leite em pó, acredito eu. Quando já não estava residindo mais na cidade, soube que uma indústria de alimentos enlatados teria aberto filial ali, a Paoletti. Não sei se ainda existe.
Três Lagoas, do outro lado do Rio Paraná, no Estado de Mato Grosso do Sul, que, enquanto Araçatuba tinha, em 1970, 108.512 habitantes e eles 55.513, hoje já conta com mais de 113 mil habitantes. Araçatuba tem previsão para pouco mais de 192 mil.

Acaso, coincidência, coisa e tal<< >>A Posse

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