Se eu disser que estive de cara a cara com ela

Há males que vêm para bem, meu querido e inútil Facebook?
Trabalhei durante quatro anos, aproximadamente, na bela e próspera cidade de Assis, região da Sorocabana do Estado de São Paulo e que, apesar do pouco tempo em relação a outros lugares onde residi, em nenhum outro lugar minha vida foi tão impulsionada, no bom sentido, como lá. Nunca me esqueço de agradecer por tudo de bom que me beneficiou, agradecer aos amigos, colegas e professores que, direta ou indiretamente, foram peças — maiores ou menores, não importa — da verdadeira catapulta que me lançou significativamente à frente e para sempre.

Cheguei naquela cidade em meados do ano de 1969 para tentar fazer dali uma ponte para outras cidades como São Carlos ou Bauru, onde já funcionavam os cursos de formação de professor de educação física, meu velho e desejado sonho de formação universitário. Há quatro anos antes tinha passado no primeiro concurso público para Auxiliar de Escrita Ref. 050, que o Banco do Brasil tinha patrocinado em substituição à antiga carreira de Auxiliar de Escriturário. Com a mudança, se não passássemos para a carreira de Escriturário em seguida, seriados Auxiliar de Escrita Ref. 050 por toda a vida profissional, sem plano de cargos ou salários. Para os contemporâneos de vida bancária, um eterno “precário”.

Em outubro ou novembro de 1969, graças a um árduo trabalho da Maçonaria, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras – PIME, políticos, professores — dentre eles, tanto maçom quanto mestre, o notável e querido Prof. Wilson Nogueira –, é criada em Assis a Escola Superior de Educação Física e sou aprovado em seu primeiro vestibular. Em seguida, depois de mais de três anos sem realizar concursos internos ou externos, o Banco do Brasil lança concurso interno para Escriturário — uma carreira –, que realizo na cidade de Ourinhos e sou também aprovado. Minha vida muda da água para o vinho, em especial pela melhoria no salário, que passa a cobrir com justeza e sem os costumeiros apertos, minhas necessidades e despesas, inclusive aquela da formação universitária. Obviamente, vale registrar, os exitosos acontecimentos caíram do céu em meu colo sem nenhum esforço de minha parte e de minha família.

No último ano de faculdade, recebo convite para voltar a Campo Grande e assumir a cadeira de basquetebol do curso de Educação Física que a Universidade Estadual tinha criado por lá. Formei-me no ano de 1972 e durante o primeiro semestre de 1973 substituí alguns professores na própria Escola de Educação Física de Assis onde me formara. No segundo semestre do ano de 1973 já lecionava na UEMS, campus de Campo Grande, as disciplinas de voleibol e handebol. A disciplina de basquetebol não teve como me esperar. Cento e oitenta graus de mudanças em minha vida, graças a uma passagem de quatro anos pela cidade de Assis (SP).

Dia atrás, através de um grupo de colegas do Banco do Brasil daquela cidade, recebi uma relação de funcionários que passaram por lá e que já tinham falecido. Dos setenta e seis relacionados, muitos dos quais tive o prazer e a honra de conhecer e trabalhar, apenas dezenove conseguiram superar a marca de setenta e cinco anos de vida. Levando essas informações em consideração, o que teria acontecido comigo se tivesse ficado por lá? Sei que os períodos de sorte na vida, quando acontecem, podem ser muito curtos. Provavelmente o de Assis, um baita impulso inicial, já estava para vencer quando deixei a cidade para voltar ao então Mato Grosso. Com setenta e cinco anos de vida já completados, o que me resta, o negócio mesmo é bater na madeira e dizer:

-“Saravá, pé-de-pato, mangalô três vezes!”

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