Assis

Já tive oportunidade de dizer que sou um ser humano muito feliz. E a convicção para isso veio do fato de ter aprendido a olhar para trás, para todo passado, e só me recordar e dar valor às coisas boas que aconteceram E dessas coisas boas, que não foram poucas, inquestionável foi minha passagem pela cidade de Assis, que se destaca dentre as melhores.

Minha vida para esta cidade foi um acidente. Então com vinte e cinco anos, três anos de Banco do Brasil, procurava desesperadamente realizar um de meus maiores sonhos: cursar e formar-me em Educação Física. Na cidade de Campo Grande, onde me encontrava, isso seria impossível. No Estado de São Paulo, na época, havia apenas três escolas: a da USP, a de São Carlos e a de Bauru. Pouco tempo depois criariam a de Santos. No Banco, o funcionário poderia mudar de agência por duas razões básicas: ser transferido, havendo vaga – e em cidades como Bauru e São Carlos certamente não haveria dada a fortíssima concorrência –, ou fazendo uma permuta. E não é que o querido e saudoso Agenor do Pinho, contínuo responsável pelas correspondências na agência de Campo Grande, conhecendo meus sonhos, num belo dia traz-me carta recebida na agência de um funcionário de Assis, que pretendia permutar para Campo Grande, voltar para seu Estado natal?

Mas, e daí? Assis não tinha faculdade de educação física. Entretanto, logo imaginei logo aceitando a proposta de permuta, seria muito mais fácil eu chegar até Bauru ou São Carlos a partir de Assis do que de Campo Grande. Assim, no final de julho de 1969 chegava eu aqui e em novembro do mesmo ano o querido amigo e professor Wilson dava notícias, quando de uma de suas idas à agência do BB em Assis, das adiantadas providências para criar, ali mesmo, a Escola de Educação Física. Em dezembro de 1969. No mês seguinte já me tornara seu aluno, colega de um seleto e heterogêneo grupo de homens e mulheres, jovens e não tão jovens, de Assis e de outras cidades da região Sorocabana, da região da Paulista e até mesmo do vizinho Estado do Paraná.

Realizado este sonho, outro estava prestes a ocorrer. Meu ingresso no Banco aconteceu numa período de mudanças internas na política funcional daquela instituição financeira. Tinha ingressado na carreira administrativa como auxiliar de escrita, ganhando alguma coisa com que mal conseguia sobreviver com decência e certo onforto com minha família. Precisava passar urgentemente em concurso para escriturário, quando tudo começaria a mudar para melhor. Antes que completasse o primeiro ano em Assis o Banco do Brasil abre inscrições para o concurso de escriturário, que fui realizar na cidade de Ourinhos e aprovado fui. O Banco não fazia concursos da espécie há mais de cinco anos. Isso me permitiu pagar a faculdade sem maiores apertos em meu orçamento familiar.

Como se não bastassem tão sonhados desejos tornarem-se realidade, ao final do nosso terceiro ano de curso fui convidado para dar aulas no Centro de Educação Física da Universidade Estadual de Mato Grosso, campus de Campo Grande. E em agosto de 1973, lá estava eu respondendo pelas disciplinas de voleibol e handebol no curso de formação de professores de educação física daquela Universidade, que entre os anos de 1978 e 1979 tornou-se federal, por conta da divisão do Estado.

Sempre tive muita sorte em minha vida. Claro que nem tudo foram flores, mas como afirmei logo de início deste registro, aprendi a olhar para trás e ver apenas as coisas boas. E nenhum lugar proporcionou-me tantas coisas boas quanto a cidade de Assis. E não foram poucos os lugares pelos quais passei nestes meus setenta e três anos de vida, como vocês tão bem podem imaginar a partir da cidade onde definitiva e finalmente lancei minha âncora.

Para finalizar, não posso deixar de revelar o que de mais especial aconteceu em minha existência fora de meu âmbito familiar. O que de mais especial aconteceu em minha vida foi a satisfação e a honra de tê-los como colegas e amigos, tesouro inestimável, todos figuras especiais daquela que foi a primeira turma da Escola de Educação Física de Assis. Só lamento que nem todos já não possam estar aqui conosco, da mesma forma que lamento profundamente só ter podido comparecer a partir do 35º aniversário de formatura. Sinto imensuráveis saudades de todos e vocês só poderiam sentir o tamanho e o carinho destas saudades se pudessem ouvir meus pensamentos e perscrutar meu coração. Saudades enormes daqueles que já partiram para sempre, especialmente de quem fui mais próximo pelas circunstâncias da vida, como meus queridos amigos Douglas Ronchi, Calixto Patrício da Costa e Profº Wilson Nogueira.

Um carinhoso abraço a todos vocês. Obrigado por me fazerem sentir-me assim, uma pessoa feliz e privilegiada por seu carinho, por sua atenção e por sua amizade.

A Posse<< >>Assis - historinha

About the author : B.Lansac